Responsabilidades de Dirigentes de EFPC: Governança, Dever Fiduciário e Sustentabilidade na Prática – Fernando Parente Advocacia

Responsabilidades de Dirigentes de EFPC: Governança, Dever Fiduciário e Sustentabilidade na Prática

O que os dirigentes de Entidades Fechadas de Previdência Complementar precisam saber para tomar decisões éticas, sustentáveis e alinhadas aos interesses dos participantes

Assumir um cargo de direção em uma Entidade Fechada de Previdência Complementar (EFPC) não é apenas uma função administrativa. É um compromisso com o futuro financeiro de milhares de trabalhadores e suas famílias. É estar no centro de decisões que afetam não apenas rentabilidades, mas vidas. E, em tempos de mudanças regulatórias, escândalos de gestão e aumento das exigências por transparência, essa função exige mais preparo, ética e responsabilidade do que nunca.

Neste artigo, vamos desvendar as obrigações legais e éticas dos dirigentes das EFPC, mostrando de forma clara e acessível como navegar com segurança pelas exigências do sistema, evitando riscos e garantindo a perenidade dos planos de benefícios.

Nosso foco aqui é a prevenção. E o medo — de sanções, de erros, de falhas de governança — pode ser um excelente motor para ações mais conscientes.

O que significa ser dirigente de uma EFPC?

A liderança de uma entidade de previdência complementar envolve decisões que impactam diretamente a segurança financeira dos participantes e assistidos. Isso torna essencial o entendimento de que não se trata apenas de cumprir metas financeiras, mas de respeitar princípios fundamentais como:

  • O dever fiduciário — sempre agir no melhor interesse dos participantes;
  • A transparência — prestar contas e comunicar decisões com clareza;
  • A governança — garantir processos internos que impeçam abusos e erros;
  • A conformidade regulatória — atuar dentro dos limites da lei, mesmo quando ela muda frequentemente.

Esses pilares devem guiar a atuação de qualquer dirigente, eleito ou indicado, seja em entidades públicas ou privadas.

O dever fiduciário: a obrigação de agir pelo outro

O conceito central do papel do dirigente está no chamado dever fiduciário. Previsto na Lei Complementar nº 109/2001, esse princípio jurídico exige que os gestores de fundos de pensão tomem decisões com base no interesse coletivo dos participantes, e não em pressões externas ou interesses individuais.

O problema? Muitos dirigentes ainda não compreendem que o dever fiduciário tem força legal — e que seu descumprimento pode gerar responsabilizações civis e administrativas.

Além disso, há interpretações cada vez mais amplas sobre o que significa “agir com diligência”. Isso envolve:

  • Tomar decisões com base em análises técnicas sólidas;
  • Documentar todos os passos e justificativas das escolhas;
  • Evitar qualquer conflito de interesses, mesmo os que parecem inofensivos;
  • Buscar sempre a máxima eficiência sem comprometer a segurança dos recursos.

A Operação Greenfield mostrou que erros na condução da gestão — ainda que bem intencionados — podem levar a investigações, sanções e à destruição da reputação institucional.

Riscos jurídicos: quando o dirigente pode ser responsabilizado?

O medo de responder judicialmente ou administrativamente é real — e justificado. A atuação em desacordo com o dever fiduciário, com as regras da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) ou com as normas internas da EFPC pode gerar:

  • Responsabilização pessoal, com bloqueio de bens;
  • Multas administrativas;
  • Impedimento de atuar no sistema;
  • Processos judiciais, inclusive por parte dos próprios participantes.

Mesmo decisões tomadas coletivamente podem ser questionadas caso falte a devida justificativa ou se haja negligência em suas análises.

Por isso, o dirigente precisa adotar uma cultura de compliance ativo. Isso inclui revisar contratos, validar políticas internas, checar a composição das carteiras de investimentos e acompanhar auditorias com atenção redobrada.

Transparência: comunicar é também uma obrigação

Outro ponto central da gestão nas EFPC é a prestação de contas clara e contínua. Participantes e assistidos não são apenas beneficiários: são donos dos recursos.

O dirigente precisa entender que ocultar, omitir ou dificultar o acesso às informações não é apenas ruim para a imagem da entidade — é ilegal. A Resolução CNPC nº 19/2015 trata especificamente da governança nas EFPC, estabelecendo que a transparência deve ser um princípio orientador da atuação.

Boas práticas de prestação de contas incluem:

  • Relatórios de gestão objetivos e acessíveis;
  • Reuniões abertas com os participantes;
  • Explicação clara de eventuais déficits ou ajustes nos planos;
  • Estímulo à participação nos conselhos e nas eleições internas.

Transparência não é sobre mostrar só o que é bom. É sobre gerar confiança, mesmo em tempos difíceis.

O papel dos participantes: quem são os verdadeiros donos dos fundos?

A previdência complementar tem uma característica única: os beneficiários são, na prática, os proprietários dos recursos acumulados. Isso significa que qualquer decisão que envolva esses ativos deve considerar sua vontade.

Nos últimos anos, esse entendimento ganhou força com a defesa do chamado direito patrimonial disponível. Ou seja, os participantes devem ser consultados sempre que houver:

  • Mudanças na política de investimentos;
  • Fusões ou incorporações de planos;
  • Alterações em regras de benefícios;
  • Negociações envolvendo superávits.

A Resolução Previc nº 23/2023 avançou nesse sentido ao fortalecer a representatividade das entidades em processos de mediação, conciliação e arbitragem. Com isso, aumenta-se a pressão sobre os dirigentes para que dialoguem com clareza e transparência com os participantes.

A importância da governança participativa

Dirigentes que ignoram os mecanismos de participação ativa colocam em risco não apenas a governança da EFPC, mas também a sustentabilidade do próprio plano de benefícios.

A Resolução CNPC nº 30/2018, que trata da utilização de superávits e do equacionamento de déficits, reforça o papel dos conselhos deliberativo e fiscal na tomada de decisões. É fundamental que esses órgãos funcionem plenamente, com membros capacitados e independentes.

Algumas medidas recomendadas:

  • Fortalecer os processos de seleção de conselheiros;
  • Oferecer capacitação contínua aos membros da diretoria;
  • Criar mecanismos para escuta permanente dos participantes.

Essas ações reduzem os riscos de judicialização e aumentam a legitimidade das decisões internas.

Modernização regulatória: um novo ciclo de exigências

As normas que regem as EFPC estão em processo constante de revisão. O Decreto nº 4.942/2003, que define diretrizes para investimentos, tem sido objeto de propostas de atualização. Além disso, o CMN (Conselho Monetário Nacional) vem discutindo mudanças importantes nas regras de solvência e estruturação dos planos.

O dirigente precisa estar atento a essas mudanças e adotar uma postura proativa. Isso inclui:

  • Acompanhamento de consultas públicas;
  • Leitura frequente dos boletins da Previc;
  • Participação em grupos técnicos das entidades representativas;
  • Apoio jurídico para interpretar os impactos normativos nas decisões do dia a dia.

Ignorar o processo de modernização regulatória é caminhar em direção ao erro — mesmo sem intenção.

Conclusão: responsabilidade não se delega

Ser dirigente de uma EFPC é, antes de tudo, um compromisso com a ética, com a técnica e com a confiança coletiva.

A função exige atenção constante às normas, aos princípios de governança e, principalmente, ao dever fiduciário. Em um cenário cada vez mais complexo, de instabilidade econômica e mudanças regulatórias, não há espaço para decisões impulsivas, omissas ou mal justificadas.

O escritório Fernando Parente Advocacia acompanha de perto a evolução do sistema de previdência complementar e compartilha conhecimento com entidades e dirigentes de todo o país. Acreditamos que o acesso à informação clara, prática e fundamentada é o melhor caminho para fortalecer o setor e proteger os direitos dos participantes.

Ao agir com responsabilidade, os dirigentes não apenas evitam riscos legais, mas também constroem um sistema mais justo, sólido e confiável. E, neste contexto, o medo — quando bem canalizado — é uma ferramenta poderosa para garantir decisões mais conscientes e alinhadas com o verdadeiro propósito da previdência complementar: segurança no presente e tranquilidade no futuro.

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